“Electrónicos duram dez anos. Livros, cinco séculos.” — Umberto Eco
“… E tudo que era efémero se desfez. E ficaste só tu, que é eterno.” — Cecília Meireles
Em tempos de velocidade digital e conexões instantâneas, a sabedoria de Umberto Eco e a sensibilidade de Cecília Meireles ecoam como um chamado à reflexão profunda: o que realmente permanece quando a luz do ecrã se apaga?
Em Angola, país jovem e em construção permanente, a era digital chegou com promessas de modernidade e inclusão, mas também com o risco do esquecimento. O acesso à informação tornou-se rápido, mas o conhecimento, esse bem que molda o futuro, continua a caminhar lentamente, preso entre a precariedade tecnológica e a fragilidade da leitura tradicional.
Nas nossas escolas, muitos estudantes conhecem melhor o toque do telemóvel do que o cheiro de um livro. A cultura da leitura cede espaço à cultura do scroll. Os textos deixaram de ser absorvidos com o olhar demorado e passaram a ser consumidos como publicações passageiras. A geração digital de Angola lê fragmentos, mas compreende pouco do que lê, porque a pressa virtual rouba o tempo da reflexão, e sem reflexão não há memória nem identidade.
A verdade é que os aparelhos eletrónicos que hoje nos deslumbram são tão efémeros quanto a rede que os alimenta. Um corte de energia, uma falha no sistema, e tudo se apaga. Mas o livro, mesmo esquecido numa prateleira de madeira, mesmo amarelado pelo tempo, continua a respirar. Ele guarda vozes, preserva o pensamento e, sobretudo, testemunha a história.
As nossas bibliotecas públicas, muitas vezes abandonadas e vazias, deveriam ser templos vivos da memória nacional. Mas, paradoxalmente, assistimos à sua substituição por centros de internet onde se pesquisa tudo e se aprende quase nada. A juventude procura respostas rápidas no Google, mas esquece-se de que as grandes transformações nascem das perguntas que os livros nos obrigam a fazer.
A tecnologia é bem-vinda, sim, mas deve servir à inteligência e não substituí-la. Um país que lê constrói-se com espírito crítico, e um povo que pensa é um povo difícil de manipular. Talvez seja isso que falta à nossa Angola contemporânea: menos likes e mais leituras; menos downloads e mais debates; menos velocidade e mais profundidade.
No fim, como escreveu Cecília Meireles, “tudo que era efémero se desfez”. As modas tecnológicas passarão, os algoritmos mudarão, os aparelhos serão substituídos. Mas o livro, esse companheiro silencioso, continuará a resistir como farol da eternidade.
E quando tudo se desvanecer, que permaneça a palavra escrita, porque nela mora o verdadeiro poder de libertar a mente e reconstruir o país.
Fonte: Portal de Angola
