A recente decisão do J.P. Morgan de aprovar a abertura de contas correspondentes em Dólar norte-americano (USD) e Euro (EUR) ao Standard Bank de Angola (SBA) representa um marco sem precedentes na reconfiguração do sistema financeiro angolano. Depois de anos de isolamento parcial do circuito monetário internacional, o país assiste ao regresso de um parceiro financeiro global que simboliza confiança, transparência e reintegração económica.
Este feito, anunciado oficialmente em Outubro de 2025, não se resume a um simples acordo bancário — é o reflexo de um processo estruturado de transformação institucional, liderado por um banco que soube alinhar-se com as exigências globais de compliance, gestão de risco e transparência regulatória. Segundo Luís Teles, CEO do SBA, “este é um marco histórico que simboliza a reintegração de Angola no sistema financeiro global e reafirma o papel do Standard Bank como parceiro estratégico no desenvolvimento económico do país”.
1. Contexto Histórico e Significado Estratégico
Durante a última década, Angola enfrentou um período de desconfiança internacional resultante de fragilidades em matéria de controlo financeiro, práticas bancárias e falta de integração nos mecanismos globais de reporte e transparência. O afastamento de bancos correspondentes norte-americanos foi uma consequência directa das exigências impostas pelo Patriot Act e pela política de risco zero a operações oriundas de países com vulnerabilidades sistémicas.
O retorno do J.P. Morgan, o maior banco do mundo em activos totais, constitui um selo de validação da estabilidade institucional e da maturidade regulatória de Angola. Segundo Stiglitz (2016), “a confiança institucional é o activo mais valioso de uma economia emergente, pois abre portas a fluxos de capitais e a novas oportunidades de investimento”. Neste sentido, a conquista do SBA é também uma conquista de Estado, pois projeta uma imagem renovada de Angola no mapa financeiro global.
2. Due Diligence, Compliance e Governança Financeira
A aprovação de uma conta correspondente internacional é precedida de um processo meticuloso de Due Diligence, onde são avaliados os mecanismos internos de prevenção ao branqueamento de capitais (AML/CFT), de combate ao financiamento do terrorismo, de rastreabilidade de fundos e de adequação tecnológica.
Segundo Shah (2021), especialista em sistemas de compliance banking, “os bancos que conseguem corresponder às exigências regulatórias internacionais não apenas preservam a sua reputação, mas tornam-se agentes de credibilidade para os seus próprios países”.
O Standard Bank Angola, apoiado pela estrutura robusta do Standard Bank Group, beneficiou da sua filiação com um dos grupos financeiros mais respeitados de África, com presença em mais de 20 países. Essa integração facilitou a adopção de normas internacionais de governança e de tecnologias avançadas para monitoramento de transações, factores decisivos para a aprovação pelo Comité Global do J.P. Morgan.
3. Efeitos Económicos e Financeiros para Angola
O impacto do regresso do Dólar e do Euro através de um canal directo com um banco norte-americano é amplo e profundo, afectando diversos níveis da economia nacional: o financeiro, o comercial e o reputacional, que infelizmente ainda nos debatemos.
3.1. Estabilização Financeira e Liquidez Cambial
A abertura de contas correspondentes permitirá ao SBA operar directamente em USD e EUR, reduzindo a dependência de intermediários e os custos associados às transferências internacionais. Conforme Friedman (2008), “a eficiência monetária de um país mede-se pela capacidade do seu sistema financeiro em transformar liquidez externa em estabilidade interna”.
Esta nova dinâmica deverá aliviar a pressão sobre o Banco Nacional de Angola (BNA), que tem sido o principal canal de conversão cambial, ao mesmo tempo que contribuirá para a estabilização do kwanza e para a diminuição da escassez de divisas no mercado formal.
3.2. Impulso ao Comércio e ao Investimento Estrangeiro
As empresas nacionais, especialmente as ligadas ao sector do petróleo, agricultura e turismo, beneficiarão de maior agilidade e previsibilidade nas transacções internacionais. O acesso directo a correspondentes norte-americanos reduz barreiras financeiras e aumenta a competitividade das exportações angolanas.
O Banco Mundial (2024) defende que “a reintegração financeira é o primeiro passo para a diversificação económica, pois reduz o risco-país e melhora a percepção de confiança dos investidores”. Assim, o Standard Bank assume um papel de catalisador no reposicionamento de Angola como destino viável para investimento produtivo e inovação.
3.3. Reputação e Credibilidade Internacional
A confiança internacional é um bem intangível, mas essencial. O restabelecimento de relações directas com o J.P. Morgan projecta Angola como um mercado em transformação qye deve ser comprometido com a transparência e a legalidade.
Segundo Daron Acemoglu e Robinson (2012), “as instituições inclusivas são a base do desenvolvimento sustentável, porque criam previsibilidade e confiança nos agentes económicos”. Este retorno de confiança global poderá atrair outras instituições de renome — como o Citibank, o HSBC ou o Deutsche Bank —, que tendem a seguir sinais de reabilitação reputacional de mercados emergentes.
4. Estratégia de Manutenção e Sustentabilidade
Para preservar esta conquista e consolidar a posição de Angola como parceiro financeiro global confiável, é necessário um conjunto de estratégias sustentáveis:
1. Fortalecimento Permanente do Compliance Bancário: Implementação de auditorias regulares, relatórios de risco contínuos e integração de tecnologias de machine learning para rastreamento de fluxos financeiros ilícitos.
2. Governança Ética e Transparente: A administração bancária deve manter padrões éticos rigorosos e promover uma cultura organizacional baseada na integridade e responsabilidade institucional.
3. Alinhamento com Políticas Internacionais:
Seguir as orientações da Financial Action Task Force (FATF) e as recomendações do FMI e BNA sobre mitigação de riscos financeiros e bancários.
4. Educação Financeira e Inclusão Digital: O acesso a moedas fortes deve beneficiar também pequenas e médias empresas, através de plataformas digitais seguras e mecanismos de apoio creditício.
5. Coordenação Macroeconómica: Como defende Keynes (1936), “a confiança dos investidores depende tanto das taxas de juro como da estabilidade institucional e previsibilidade do Estado”. Assim, o governo deve sustentar políticas fiscais e monetárias coerentes que reforcem a confiança externa.
Finalmente, é importante referir que o regresso do J.P. Morgan ao sistema financeiro angolano, através do Standard Bank, é mais do que uma operação técnica — é uma declaração internacional de confiança. Representa o caminho desejável para o amadurecimento das instituições financeiras nacionais e a capacidade do país em alinhar-se com os padrões globais de governação.
Angola inicia, assim, um novo ciclo económico baseado na credibilidade, transparência e competitividade. Como observa Peter Drucker (2005), “a confiança é o novo capital das nações, mais valioso que o próprio ouro”.
A conquista do Standard Bank de Angola deve, portanto, ser entendida como um ponto de viragem: um sinal claro de que o país está a retomar o seu lugar no sistema financeiro mundial com maturidade institucional, disciplina económica e visão estratégica de futuro.
Fonte: Portal de Angola
