Quando o Kwanza não aguenta: o alerta das Reservas Internacionais de Angola

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Segundo o Jornal Expansão, as reservas internacionais líquidas de Angola diminuíram 545 milhões de dólares entre janeiro e setembro de 2025, situando-se em cerca de 15,2 mil milhões USD. Esta redução de 3% em relação ao início do ano está associada à queda das receitas provenientes das exportações petrolíferas e à pressão cambial sobre o kwanza, colocando em evidência a vulnerabilidade da economia nacional. Especialistas alertam que, embora o nível actual ainda garanta alguma estabilidade, a tendência de descida poderá afectar a capacidade de importação e a confiança dos mercados financeiros caso se mantenha até ao final do ano.

A experiência de países como o Brasil e a China oferece lições valiosas para Angola na busca por maior autonomia financeira.

1. O Brasil: Da Crise à Autonomia Financeira

O Brasil, após décadas de crises fiscais e inflação elevada, implementou reformas estruturais que estabilizaram a economia e fortaleceram as reservas internacionais. A independência do Banco Central, estabelecida em 1964, foi crucial para garantir políticas monetárias focadas na estabilidade da moeda e no controlo da inflação. Além disso, o país diversificou as suas fontes de receita, ampliando exportações de commodities e fortalecendo o sector industrial.

Em setembro de 2025, o Brasil possuía reservas internacionais de aproximadamente 355,4 mil milhões de dólares, representando cerca de 16% do PIB, o que serve como um importante amortecedor contra volatilidades externas e choques cambiais. Essa robustez permitiu ao país reduzir a dependência de empréstimos externos e aumentar a sua capacidade de intervenção em crises financeiras.

2. A China: Estratégia de Crescimento e Influência Global

A China adoptou uma estratégia agressiva de crescimento económico, combinada com políticas de acumulação de reservas internacionais e expansão da sua influência financeira global. O país tornou-se o maior credor bilateral do mundo, superando o FMI e o Banco Mundial, através de empréstimos a países em desenvolvimento, principalmente na África e na Ásia.

Além disso, a China tem promovido o uso do renminbi (RMB) no comércio internacional, oferecendo linhas de swap de moeda e empréstimos denominados em RMB para reduzir a dependência do dólar norte-americano. Esta estratégia não apenas fortaleceu a sua posição financeira, mas também aumentou a sua influência política e económica em várias regiões do mundo.

Em setembro de 2025, as reservas internacionais da China totalizavam 3,3387 mil milhões de dólares, refletindo a resiliência da economia chinesa face a pressões externas.

3. Lições para Angola

A experiência do Brasil e da China oferece lições importantes para Angola:

1. Diversificação Económica: Reduzir a dependência das exportações de petróleo, investindo em sectores como agricultura, turismo e tecnologia, pode aumentar a resiliência económica.

2. Fortalecimento das Reservas Internacionais: Acumular reservas em moedas fortes e activos líquidos proporciona maior capacidade de resposta a choques externos e crises cambiais.

3. Política Monetária Rigorosa: Estabelecer uma política monetária independente, com foco na estabilidade da moeda e controlo da inflação, é essencial para ganhar a confiança dos mercados financeiros.

4. Expansão da Influência Financeira: Investir em projectos de infraestrutura e oferecer financiamento a outros países pode aumentar a influência política e económica, além de gerar retornos financeiros.

5. Transparência e Governação: Implementar práticas transparentes de gestão fiscal e financeira é fundamental para atrair investimentos estrangeiros e fortalecer a confiança nas instituições nacionais.

Finalmente, é importante referir que a diminuição das reservas internacionais de Angola é um indicativo da necessidade urgente de reformas estruturais para garantir a estabilidade económica e financeira do país. Ao adoptar estratégias semelhantes às implementadas pelo Brasil e pela China, Angola pode fortalecer a sua autonomia financeira, reduzir a vulnerabilidade a choques externos e posicionar-se de forma mais assertiva no cenário económico global.

Como afirmou o economista brasileiro Gustavo Franco: “A autonomia monetária é a base para a soberania económica de um país”. Seguindo este princípio, Angola tem a oportunidade de construir um futuro económico mais estável e independente.

Fonte: Portal de Angola

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